Jornal da Diplomata apresenta: Série Especial sobre as Escolas de Campo de Brusque – 3ª parte
Três escolas de Brusque têm dividido com seus alunos experiências que vão muito além da sala de aula. Se por um lado alguns alunos entendem o hábito de ir para escola como uma tarefa não tão prazerosa, as crianças das escolas Edith Gama Ramos, Adelina Zierke e Edith Krieger Zabel não veem o momento de estarem no ambiente escolar.
Começa pelo embelezamento do local em que a criança passará boa parte do seu dia. Flores, pinturas no chão e nas paredes, decorações com material reaproveitado fazem parte do cotidiano das crianças que estudam nas chamadas escolas de campo, aquelas que estão localizadas em bairros mais interioranos, como Cristalina, Cedro Grande e Ribeirão do Mafra. E é para estas regiões de Brusque, no Vale do Itajaí, que o Jornal da Diplomata foi, para entender o porquê tais educandários tem se tornado destaque na didática de ensino e inclusão de crianças no contato direto com a natureza através de projetos ambientais.
O Projeto “Nossa Escola, Nosso Lar” nasceu nos anos 80 em Brusque e, na época, foi realizado em forma de concurso, conforme explica a Assessora Técnica da Secretaria de Educação, Stella Mares Maccarini Fischer. “Ele surgiu com objetivo de implantar a condução de horta na rede e algumas atividades de embelezamento ao redor das escolas. Isso teve uma comissão que fez avaliação, depois as escolas foram ao final até o Bandeirante e eram divulgados os resultados dos trabalhos com apresentações”, lembra.
O projeto “Nossa Escola, Nosso Lar” foi reativado em 2018 em conjunto com a Coordenação Ambiental, coordenações do Ensino Fundamental e Educação Infantil, retomando algumas atividades, especialmente de horta, entre outras, como compostaeira, plantio de árvores frutíferas (resgate de pomares). “Apuramos que algumas escolas passaram a trabalhar com animais e isso incentivou novamente o trabalho com animais de pequeno porte, como tartaruga, criação de abelha sem ferrão”, explica Stella.
“Esse projeto é bem audacioso. Pretendemos esse ano lançar o concurso novamente, resgatando atividades e introduzindo novas outras. Todas as atividades são feitas com participação de professores e crianças, e todas foram muito bem aceitas”, ressalta Stella.
Nas escolas, cada espaço do projeto Nossa Escola, Nosso Lar é explorado através da multidisciplinariedade. “Tem escolas que tem trabalho com chás, outra com produção de sabão. Quando surge um aluno novo, em que a família chega na cidade, a diretora e os alunos vão até a casa deles para implantarem uma horta na residência. Na Cristalina tem um canteiro comunitário, e por aí vai”, explica Stella.
E o projeto irá expandir. A Escola Padre Carlos Fuzão, no bairro Santa Luzia, está iniciando o projeto e se estruturando para receber os espaços. “Lá há um projeto de energia solar que iniciou no ano passado com mangueiras. A água passa e esquenta. Também há plantação de aipim, jardinagem e o projeto de hidroponia para este ano”, adianta Stella.
Escola Professa Adelina Zierke – bairro Ribeirão do Mafra
Há 30 minutos do Centro de Brusque chega-se à uma escola onde o relógio não tem pressa e os dias são mais longos. Nesta escola o espaço é divido por adultos, crianças e pequenos animais. Tem horta, alegria, cor e sustentabilidade. Fica para trás o caos da selva de pedra, e o chão asfaltado. Se o clima estiver seco, haverá poeira pelo caminho até chegar lá, mas é preciso passar por ela para conhecer esse cantinho especial.
Estamos falando da Escola Professora Adelina Zierke, localizada no bairro Ribeirão do Mafra. O espaço tem mais de 50 anos e atende crianças do B2 Infantil ao Pré-escolar. O diferencial deste espaço está no verdadeiro laboratório em mãos que eles possuem. Eles conseguem trabalhar desde horta, água e animais, pois tudo está em volta do educandário. Ali, todos se engajam logo no primeiro dia de aula, conforme explica a diretora Neusa Sapelli Teixeira. “Desde o primeiro dia de aula a gente coloca a proposta para o novo grupo que está chegando, conhece os espaços e não tem como fugir, quem vem para uma Escola do Campo, se adapta nestes trabalhos”, brinca.
As crianças participam em tudo: construção da horta, jardim, criação de animais, procuram por girinos, coletam tipos de águas diferentes para fazer pesquisa, e conhecem o rio que passa bem pertinho da escola. “A gente visita todo ano nosso micro reservatório de água que está aqui pertinho da escola para acompanhar como está o nível de água, preocupação que a gente tem que ter para cuidar na nossa economia também”, explica.
A Escola já possui o espaço orgânico e voltado à educação ambiental desde 1986, e de lá para cá sempre manteve o espaço bem cuidado e, inclusive, já até foi premiada como a horta mais bonita. “Ganhamos prêmio, conseguimos levar crianças para o Parque Beto Carreiro, e de lá para cá sempre cuidados com projetos voltados às questões ambientais”, conta.
O ambiente conta com projetos sobre a dengue, Cedro, Água e Jardinamento. Desde 2018 foi implantado na escola os projetos sobre hidroponia, sementeira e a composteira. Lá também há uma árvore de Cedro, que foi plantada no passado com alunos do Ensino Fundamental e hoje os pequenos usufruem da sombra. “Temos ainda árvores centenárias, quando é o Dia da Árvore a gente faz o abraço nela, que fica próxima da escola”, conta a diretora.
Nada se faz sozinho. A escola tem um importante apoio que vem dos pais das crianças. “Eles participam nas atividades, na construção da casinha da codorna, trazem esterco para horta, mandam frutas que tem na comunidade, colaboram direto e essa parceria é fundamental para que a escola aconteça”, diz.
Projeto codorna
A escola ganhou 25 codornas de uma mãe de aluno, e a partir de então cada aluno teve sua própria codorna. As codornas tinham nome, e cada criança ajudava a alimentá-las. “No final, trabalhamos com eles sobre o custo, quanto custou cada codorna para cada aluno, para eles saberem que tudo tem um custo, e a responsabilidade que eles tinham em tratar, trocar água, recolher ovinhos”, explica Neusa.
Futuro
A aquaponia é um dos projetos para serem implantados em 2019 na escola. Outro projeto que será colocado em prática com mais entidade é a música, através de aulas uma vez por semana. Após a codorna, a escola terá coelho. “Vamos criar coelhinhos e já tem até mãe oferecendo pintinho para a gente cuidar. O ano inteiro terá animal aqui”, cita a diretora.
Acompanhe imagens da escola!